A contemplação da paisagem, em corpo e alma, revisitada – 1973
Para um Poeta amigo
Pintar as refrações da luz e da cor, carne e sangue, veias que latejam a pulsação viva da terra, quieta a olho nu, cintilante entre vales e montanhas, o verde e a atmosfera multicor que envolve a paisagem outrora de futuro metálico e lunar.
Viaja por nuvens, tremulas sobre o tremor convulso, do amago da terra, raio-X infravermelho e sonoro, na espiral dos teus olhos.
Caleidoscópio encantado, girando-focando pluriprismático, a impressão de cósmica e dialética retina.
Salta, carne e espírito de Minas! Tão latente quanto uma criança que nasce; tão tranquila tal o fulgor de vida de uma anciã secular, seu grito tribal de férreas montanhas e o suave suspiro dos verdejantes vales a cintilar sob o dourado e o azul do céu e das estrelas.
Minas na carne, Minas no sangue, Minas na alma, absorve o astral e exala o metafísico: a cor viaja na cor, a luz viaja na luz, a forma viaja na forma, o olhar conduz o gesto, e o gesto concreta o olhar.
Primeiro, foi a sacada ao longe, contemplativa da paisagem tremendo ao brilho do ar e do pincel; depois, o pincel e o espaço mergulham no infinito e bem dentro de si, plasmando as estações internas da natureza e o canto de amor de uma mente e de um coração: o olhar olhando pra si.
Minas revisitada, na transparência das veias latejantes, dos músculos entrelaçados, dos nervos à flor da terra e da pele, sensível do seu corpo e do seu Ser, esplêndida feitiçaria: cismava que Minas era assim, etérea e sensual, concreta e fugaz.
E que o peito calado do mineiro, retém no silêncio suspenso no ar, o grito do lobo,
Boca que nos previne, que a paisagem é esta aí – Minas revisitada. Vieira. Gerais.
Décio Lopes – Jornalista | Juiz de Fora
1973 | Texto de apresentação da exposição individual na Gal. Celina – Juiz de Fora