Jornal – O Globo – 1979
… “Roberto Vieira partiu, indiscutivelmente, da paisagem montanhosa de Minas. Mas apenas nos primeiros momentos. Sua “paisagem” é construída, hoje, no ateliê. O objetivo do pintor é construir um quadro. Neste sentido, se teve, não tem mais nenhum compromisso com o montanhismo, esta temática muito mineira que, com frequência tem resvalado para soluções demagógicas do tipo “salve as montanhas de Minas”, ou glamurizada ou edulcorada num desenho cheio de maneirismos ou trejeitos. Nem o enfoque lírico (a mineiridade) nem o compromisso político (a ecologia). Isto é evidenciado pelo caráter ostensivamente artificial da cor – como se o artista quisesse dizer com todas as palavras: meu problema é a pintura. As erosões e os cortes bruscos na “paisagem” referem-se muito menos ao caráter predatório da exploração do minério do ferro ou às circunstancias da paisagem mineira, e muito mais às necessidades específicas de sua composição pictórica. E menos a erosão da terra e muito mais a erosão da forma. O artista parece muito mais interessado em mergulhar no interior da forma, descama-la para descobrir todas as suas múltiplas implicações. Neste sentido se se deseja insistir em analogias visuais, além da topografia mineira é preciso referir-se à idéia de corpo – um corpo descarnado, a carne exposta. Erosões (na paisagem) feridas abertas (no corpo).
Frederico de Morais